quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ele é Ocara

O leopardo não muda suas pintas, dizem. Carlos Ponzi, que aperfeiçoou a esquema que leva seu nome, depois de sair da prisão foi fazer falcatruas com terras de Florida, e foi deportado de vez. (E terminou com representante de uma companhia de aviação italiana no Rio de Janeiro, mas isso é outra história.)

O modelo de negócios da Colina do Sol foi sintetizado por Celso Rossi numa carta de 2004:

...a Colina deixou de ter um trabalho constante de marketing visando atrair público novo. Com isso, o ingresso de novos sócios diminuiu e o clube - assim como os moradores da Colina que dependiam do turismo para o seu sustento - começou a enfrentar dificuldades financeiras.
O próprio Ponzi não poderia ter explicado melhor como uma esquema destas desanda!

Porém, as múltiplas personagens corporativas da Colina do Sol dificultam rastrear o empreendimento: a FBrN se mistura (até no CNPJ) com Colina do Sol que se confunde com Naturis e Sol da Colina e CNCS e tantas mais.

Ocara Hotéis e Restaurantes S/A

Uma S/A é regido por leis e regulamentos que exigem que uma Sociedade Anônima funciona numa maneira transparente. Ocara Hotéis e Restaurantes S/A, CNPJ/MJ 03.218.670/0001-77 então, serve com uma janela para os negócios de Celso Rossi. Neste empreendimento enxergamos os demais, e nos registros da empresa percebemos o modus operandi típica do fundador. Ele é Ocara.

Terras por ações

Tenho aqui comigo somente a Ata mais recente de Ocara S/A, e do começo da empresa preciso relatar de memória. Nasceu como Tuto Bene, que gerava a restaurante da Colina.

Mas veio o sonho de um grande hotel, que ficou fantasma. O esqueleto que está lá, com somente 10 das suas 30 quartos acabados. A coisa projetada era quatro vezes maior.

O que foi o investimento de Celso Rossi e Paula Fernanda Andreazza? Um terreno, matrícula 2025, de 33.818 m2, que já tinha sido doado para a FBrN, e posteriormente apresentado como parte dos terrenos da Colina do Sol, em que "investidores" tinhas comprado "títulos". Tenho em mãos aqui um Concessão e Uso Vitalício, de 20.05.1998, que lista 2025 como parte da área da Colina, assinado por Celso e Paula. E várias edições do "manual de proprietário" também listaram o terreno como parte da Colina.

Porém, o terreno de todos virou o investimento de Celso e Paulo. Pode ser argumentado que os "Colineiros" não foram tão severamente lesados. Celso recentemente alegou em papeis na Justiça de que ele comprou as terras todas, umas 42 a 60 hectares, por US$ 50 mil. Trocando em miúdos, mil dólares o hectare. O valor na hora de transformar Tuto Bene em Ocara foi algo entre R$10 mil e R$20 mil.

Dinheiro de sócios

Sr. Dana Wayne Harbour investiu pelo menos R$200,000 para conseguir um participação minoritário - 3.929 ações para ele, e a mesma coisa para sua esposa Bonnie, total 7.858 ações.

Kleber Pinto Silva e Raymond Vitor Ruffin tem 1.964 ações cada mas não tenho aqui informações sobre quanto eles pagaram. Ouvi também que ficaram com medo e não voltam mais para Colina do Sol, apesar de ter uma casa quase pronta lá.

O último investidor foi José Van Reigersberg Versluys Peña, que comprou 1.132 ações, 3,95%, por um total de R$56.600, em 02.09.2006. Se Kleyber e Raymond pagaram proporcional - sua participação foi de 14,28% quando comprarem - teriam pago algo muito perto de R$200 mil.

Em total, os outros investidores entraram conseguiram 45,12% porcento do hotel, pagando algo como R$450 mil. Celso e Paula ficaram com 54,88%, pagando um terreno que valia um vigésimo do que os outros tinham pago - e que já tinham brandado como algo de que qualquer Colineiro possuía parte.

Mas o que vale?

IstóÉ identifica o investimento no hotel como sendo R$700 mil. O banco BRDE emprestou R$170,000 para o empreendimento, em troca de uma hipoteca, que agora é acima de R$300 mil. Custaria R$250 mil terminar a obra do hotel.

Mas o que vale? Isso é a pergunta maior. O problema é que, enquanto a maioria de resortes naturistas são "urbanizadas", Colina do Sol se destaque para seu ambiente rural. Alguém vai para um lugar rústico, para ficar num hotel de três andares?

Como empreendimento turística, o valor é dúbio. Como isca para investidores, onde futuros planos valiam mais do que realidades, já mostrou seu valor. E serviu sua função.

As provas que sumiram com o assassinato

Um velho conhecido de Wayne mantém que ele diz que o cheque com que comprou sua participação foi depositado não na conta da empresa, mas na conta de Celso Rossi, pessoa física. Wayne juntou uma caixa de provas, no maior parte cheques cancelados. Morreu durante um assalto, em que sumiu seu testamento, e a caixa de provas, também.

O Banco do Brasil mantém cheques em microficha durante 20 anos. As provas do Wayne sumiram, mas podem ser facilmente reconstituídos. Basta vontade.

O reunião de 02.09.2006

A Ata do reunião de acionistas mostra como a coisa funcionou. Presente eram só Celso e Paula. Aprovaram as contas dos três anos anteriores de uma tacada só.

Venderem ações para Peña em troca dos seus R$56.000. Não as ações deles - criaram mais ações, para que a fatia de bolo de cada um ficou um pouco menor.

Ai, eles votaram de pagar R$4.000 por mês ao eles mesmo, Celso e/ou Paula, na proporção que achavam conveniente, para seu "pro labore" em gerenciar um hotel fechado. Os R$56 mil de Peña resolveram suas vidas por 14 meses, antes que precisariam caçar outro "investidor".

Predadores

Fica bastante claro disso porque Celso gosta de ter "sócios" e "investidores". Os investidores em Ocara que tiveram sorte perderem somente seu dinheiro. E Celso está lá morando no hotel, construído com o dinheiro de outros, aguardando ... quem sabe você, leitor.

Visite Colina, se quiser. Mas quando tira suas calças, deixe sua carteira no bolso. E se ouvir o canto de sereia de Celso Rossi, tampa seus ouvidos.

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