domingo, 27 de junho de 2010

O mapa da Colina: conversa no Barracão

Matou a cobra, tem que mostrar o pau.

Falta pouco agora para colocar a última das peças no lugar, para ver a colcha de retalhos da terras da Colina do Sol. Mas para mostrar que é assim, e não de alguma outra maneira, é preciso mostrar as evidências.

Remexer as papeis do cartório era um emprendimento solitário e frustrante. Sair a pé pelo Morro da Pedra, conversando com os nomes nas papeis, foi um dos aspetos mais agradáveis deste empreendimento todo. O lugar é lindo, e as pessoas simpáticas. Tinha sol demais, ou frio demais, e gastei sapato, mas tinha churrasco e festas juninas e doces caseiros, também.

Quando fui para Morro da Pedra pedir ajuda das pessoas locais, foi quando comecei entender as terras da Colina do Sol. Minhas tentativas inicias foram baseadas nos papeis do Registro de Imóveis, que descrevem os tamanho de cada lote e seus vizinhos, mas que não fornecem nenhuma referência geográfica que poderia ser apontado numa mapa.

A falsa pista chave

Tinha somente uma ligação entre o mundo das papeis dos cartórios, e o mundo real: o hotel, lago e restaurante ficavam no lote de registro 2025. Mas isso é errado. Obviamente, começando com a peça errada bem no meio da quebra-cabeça, nunca daria para montar. Na realidade, o Hotel Ocara fica num terreno de posse, sem escritura no Registro de Imóveis.

Quando cheguei em Taquara pela primeira vez em março de 2008, fui para o Barracão de Morro da Pedra - sem avisar antes os amigos dos acusados do caso Colina do Sol, para que eu poderia conseguir informações que não fossem filtrados, sobre Fritz Louderback e seu ONG. Foi lá que verifiquei que ele contava a verdade sobre o ONG e as aulas de futebol, e a corja da Colina estava mentindo. Foi para lá que fui no sábado, 11 de julho de 2009, para perguntar sobre as terras.

A trilha começou no Barracão

Há almoço no Barracão todo sábado, sempre churrasco. Na cozinha em frente do churrasqueira Jairinho estava jogando cartas com amigos do Morro da Pedra, e ele e Batista (João Batista Vaz de Rosa) me falaram um pouco das terras, e onde poderia obter mais informações.

Me disseram para procurar o João Guelo, "um baixinho de chapeu, que pode ser encontrado no Bar do Japa." Encontrei ele, várias vezes, sempre lá e sempre de chapeu.

Um dos donos das terras no morro que virou Colina do Sol era João Jaques, um solteiro que não deixou herdeiros. Me falaram que pagaram MIROMAR [Miromar Benkenstein Nunes], um advogado de Entrepelados, para registrar suas terras, mas que Miromar passou a perna em João Jaques.

"As terras de João Francisco da Rosa fazia divisa com a casa do Barney", conforme Jairinho, que construi várias das casas da Colina, trabalhando desde a primeira construção.

O MAURO MULLER de entrepelados, era dono de muito, e "ROBERTO FISCHBORN tem tudo registrado no parte leste."

Ouvi mais de uma vez de mapas, mas até agora vi somente o que o topógrafo Tutti preparou da Colina do Sol em 2005, ao pedido de Fritz Louderback. Houve uma mapa de Zé Silveiro, que seria nas mãos de Fernando.

Darci vendeu tudo que juntou

"Darci vendeu tudo, e não tem mais nada lá" ouvi, que é importante porque enquanto Darci andou juntando as terras, que depois vendeu para Edu Carlos e seus parceiros, o terreno de José Antônio da Silva, de registro 46.485, pela palavra corrente, foi comprado pelo Darci, mas nem esta compra nem a venda subsequente, jamais foram registrados.

Realidade no outro lado da divisa

Um coisa que queria saber era a situação da casa de Fritz Louderback. Estava nas terras penhoradas para garantir as dívidas de Celso Rossi, ou estava sem este onus? Sendo que a casa dele fica numa das divisas da Colina, descobrir os vizinhos pareceu a maneira mas fácil de proceder, pois no mundo real as coisas são mais fáceis do que entre os papeis fajutas e explicações sem nexo da Colina do Sol

A casa de Fritz Louderback está no lado norte da Colina, me disseram, e o vizinho do outro lado da divisa seria IDALINO [Idalino Correa, cujo nome aparece nas escrituras de posse da tabelião, de números 8008 e 8183]. "Pedro Silveira faz divisão para lá", mas anotei mal - parece que Pedro Franciso Carvalho da Silva é o nome certo.

Fui mostrando os papeis do cartório. José Antônio da Silva, do registro 46.485, é morto, mas deixou os herdeiros Eloi [anotei mal, é Erenani Elberto da Silva] e Fernandes, este primeiro tendo a lanchetaria em frente ao colégio Jorge Fleck. Porém antes de morrer, ele vendeu o terreno para Darci Farias. A mesma pessoa que Darci Dorivaldo Ermel Nunes, casado com Lorita Benkenstein Nunes - viz. MIROMAR. Darci está vivo, ouvi, e mora na praia - até me deram a nome da cidade.

EDIN, o ex-cunhado de Douglas, tem terras em Pega Fogo que fazem divisa com a Colina.

José Constantino Hermer (Ermel?) tinha 400 hectares por ai. Nas minhas anotações, há o especulação que seja parente de Constantino Antônio da Silva Filho, que aparece em vários registros.

O José Antônio, que Douglas conhece, sabe de tudo.

A Chacara de Pedra, que fica no Beco de Araújo menos de meio kilómetro da Colina, e lá por baixo é de Carmargo, mas "náo tem registro". "Custa caro legalizar, tem que fazer inventário" me falaram, que explica muito das lacunas nos papeis do Registro de Imóveis.

Desta para o melhor

Perguntei dos outros nomes das papeis, e ouvi que Vendelino é morto, e Belizar Martins da Silva, e José Silveira, cujos terras faz divisa no parte do norte.

No bar do Japa

No mesmo dia, subi o Beco de Araújo até o bar da Japa, a procura de João Guelo. Encontrei no mesmo lugar Luis Silveira, filho de José Silveira que consta como divisa no registro 9854, e neto de Olímpio Silveiro. Vendelino era primo do seu pai. Sua mãe está viva, e "tem uma mapa, a escritura e os números."

A família ainda tem "30 hectares, um terreno que "vem de lá perto do rio, a estrada passa por cima. Não é muito largo, mas vem lá do fundo."

Tiras estreitas

Esta informação de Luis Silveira foi muito útil para montar a mapa. No Google Maps se enxega as marcas das divisas entre mato e pasto e as linhas de cercas, e realmente os terrenos da Morro da Pedra foram traçados em longas tiras vindo do rio, quando este foi o único meio de transporte na região. As peças da quebra-cabeça seguem esta lógica de tiras finas, sendo rectángulos compridos, e não quadrados.

No Japa, ouvi também dos vizinhos no oeste. Teobaldo morreu faz 4, 5 anos, e seu herdeiro Luis Antônio faz divisa com a Colina em Pega Fogo. As terras dele fazem divisa com os que eram de João Jaques. Almiro Tavares é outro vizinho.

Outros vizinhos e herdeiros

Loureci Correa da Silva é filho do finado Idalino Correa, e mora numa casa azul atrás da Colina. Talvez ele vendeu a terra que fazia divisa com Fritz. "Procura com ele", fui avisado, "dos quatro irmãos ele é o maior, e sabe de tudo."

"Edegar tem informações melhor", ouvi, "mora na curva, no direto" na Estrada da Grota, indo na direção da estrada Integração.

Marcírio Farias, cujo nome parece na escritura 46.485, é o pai do Darci.

Roberto Fischborn, cujo genro estava no Barracão, está vivo, e mora para o leste e o norte, perto da casa do finado IDALINO.


Aqui terminam minhas anotações daquele dia. Os conselhos foram boas, e lendo de novo depois um ano, se eu tivesse seguido todos à risco e de imediato, teria chegado a mapa correto muito mais cedo.

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