quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Massachusetts, Taquara, e Catanduva

Um dos fatores da derrota da candidata do partido de Obama, Martha Coakley, na eleição especial de ontem para preencher a cadeira no Senado do finado Ted Kennedy, foi o conduta de Coakley enquanto promotora, de manter um homem inocente preso sob acusações falsas de abuso sexual de crianças.

A matéria embaixo, da revista Psychology Today, de maior circulação no seu segmento, explica o fim da onda de casos "Múltiplas Vítimas-Múltiplas Ofensores (MVMO)" de abuso sexual de crianças.

Tanto o caso Colina do Sol quanto o caso Catanduva se encaixam nesta categoria de aberrações jurídicas, relíquia histórica nos EUA, mas ainda encontrada aqui no Brasil.

http://www.psychologytoday.com/print/37180

Martha Coakley e Modernas Caças às Bruxas - Abuso Ritual de Crianças

De Stanton Peele

Publicado Jan 18 2010 - 08h44


Quando nós pensamos que somos uma sociedade altamente civilizada, pensem no Caso Escola Fells Acres de Abuso Sexual Ritual. Martha Coakley, Procuradora-Geral de Massachusetts, está concorrendo na eleição especial para a cadeira do finado Senador Ted Kennedy. Antes de se tornar Procuradora-Geral, AG, Coakley participou do caso Fells Acres, na qual a Procuradoria do condado de Middlesex condenou três membros da família Amirault - mãe, filha, e o filho Gerald.

A citação abaixo e de The Week Magazine:

"Coakley não foi a promotora do caso, que já estava em andamento, quando ela entrou na promotoria como promotora-assistente em 1986. Mas anos depois, depois do que a histeria de abuso em escolinhas tinha acabado e ela chegou a chefe do escritório, ela trabalhou para manter o "cabeça da rede,"  Gerald Amirault, encarcerado apesar de dúvidas extensas de que qualquer crime tinha sido cometido... as condenações conseguidas pela Promotoria de Middlesex no caso Fells Acres não aguentaram bem. Pelos padrões de hoje, a perseguição da família Amirault, donos e operadores da escolinha em Malden, Mass., parece como uma aula avançada em batalhar bruxaria."

Se devido ao entusiasmo errado ou cálculo político, Coakley defendeu e manteve a perseguição dos Amiraults à todo vapor, incluindo esforços fortes nos bastidores. De cara, ela lutou contra reconsideração da condenação de Gerald Amirault, e até se opos à sua liberdade condicional, depois que sua irmã tinha sido solta. (A família recebeu penas longas porque se recusavam declararem-se culpados.) Ele também foi eventualmente solto - depois de 18 anos de prisão! Dezoito anos para abuso ritual de crianças, que sumiu da face da Terra uma vez que técnicas sensatas de interrogação para crianças foram implantadas. Coakley ainda defende sua posição e seus atos.

No país inteiro nos anos 1980-1990, casos de abuso sexual ritual foram promovidos contra funcionários de escolinhas. O caso contra a escola McMartin, no Manhattan Beach, California, foi o mais monumental. Esta descrição é do site Religious Tolerance:

"McMartin foi um dos primeiros casos Múltiplas Vítimas-Múltiplas Ofensores (MVMO) de abuso sexual de crianças. Durou seis anos -- o processo criminal mais longo na história dos EUA. Com um custo para o Estado de U$15 milhão, foi também o mais caro, sem resultar em condenação alguma. A evidência principal de abuso foi baseado no que as crianças testemunharam foram memórias de abuso repetido, sádico, e ritual. Anos depois, psicólogos de infância reconheceram que tais memórias poderiam ser facilmente implantadas nas mentes das crianças pelas técnicas de interrogação em uso na época. Desde então psicólogos e investigadores policiais mudaram seus métodos de interrogar crianças pequenas, e mais nenhum caso MVMO tem aparecido nos EUA." (ênfase adicionada)


Incrivelmente, ainda há pessoas que acreditam nas acusações. Sites de Internet estão dedicados a perpetuar a idéia de Abuso Infantil Ritualista ainda em larga escala e mantém a existência uma vasta conspiração para encobrir o fenômeno. (Aguardem respostas a esta matéria dos fãs de abuso infantil satânico.) Realmente, trabalhei num grande centro de pesquisas na época do processo McMartin. Meus colegas - cientistas sociais sofisticados - acreditaram nas acusações. Mas as acusações de crimes - que envolverem outra família estendido - nunca fizeram sentido para mim.  Além disso, a teoria de doença de que pessoas são empurradas inexoravelmente para álcool e drogas nunca me fez sentido.

A lógica que apoia esses casos é - "O que levaria uma criança a inventar coisas assim?" Claro, em casas de famílias e outros lugares, crianças relutam em relatar abuso continuado por membros da família e outros adultos com poder. Essas abominações e a reticência resultante tem sido mal-interpretadas para permitir que as histórias mais bizarras de abuso infantil ritual sejas apresentadas e acreditadas.  Mantém na mente de que os acusadores no processo de bruxaria de Salem em Massachusetts foram crianças - e suas histórias de infestações de bruxas se espalharam rapidamente. Martha Corey (não, não foi Coakley) - um pilar da Igreja - expressou ceticismo sobre as historias e foi acusada, junto com seu marido. Martha foi enforcada, enquanto seu marido Giles foi esmagado até a morte sob pedras numa tentativa de fazê-lo entrar com um afirmação de culpado ou inocente.

A fusão fantasia e realidade na infância sempre aconteceu. Sou advogado e psicólogo em Nova Jersey, onde Kelly Michaels foi condenado por abuso sexual infantil. Da revista National Review (26 de abril, 1993):

"Kelly Michaels já está fora da cadeia, depois de servir 5 anos de uma sentença de 47 anos por supostos atos de abuso infantil. Seu processo original foi uma travestia transparente, e submeter ela ao outro processo seria seguir injustiça com escândalo. Srta. Michaels, que trabalhou numa escolinha no porão de uma igreja de Nova Jersey no meio da década dos 80, foi acusada pelo Estado de um leque de atos que parecem uma preliminar para Sade: besuntando suas alunas com fezes, e fazendo-as come-las; estuprando-as com lâmpada e bloquinhos de Lego. (Várias crianças disseram também que ela as transformou em ratinhos...)."

Esta última acusação - transformando crianças em ratinhos - pareceria tão fora do real de que alguém o afirmando não poderia ser levada a sério de maneira nenhuma. Mas em casos de abuso infantil ritual, crianças contavam repetidamente histórias de transubstanciamento, vôos humanos, sacrifício de animais, assassinatos ritualísticos (o lote da escola McMartin foi escavado procurando os corpos de crianças assassinadas durante os supostos rituais, ainda que nenhuma criança tivesse sumido ou faltado). Ainda que estes relatos parecessem invalidar o que mais foi dito, em muitos casos pessoas ficaram encarceradas durante anos - quase duas décadas para Gerald Amirault - baseado na mesma evidência de crianças.

New Jersey - devido à reversão no caso Michaels - estava na frente na incorporação de técnicas modernas de psicologia e investigação para questionamento de crianças para evitar a construção de casos em volta de fantasias assim. Crianças querem agradar um interrogador, e tentam dar sentido às perguntas feitas a elas, às vezes com histórias fabulosas fornecendo as informações que elas acreditam que o interlocutor está procurando e querendo. Posso ser um otimista incurável, mas creio que cada policial, promotor, advogado de defesa, e corte em Nova Jersey agora tem consciência aguda de que uma criança tem que ser questionada com cuidado.

Parece que há uma "maldição" sobre Coakley e os outros promotores de Middlesex envolvido no caso dos Amirault. Cada titular sucessivo do cargo tem chegado ao Procurador-Geral de Massachusetts, mas tem falhado conseguindo cargo maior. O promotor que conduziu o caso, Scott Harshbarger, perdeu a eleição para governador em 1998. O sucessor de Harshbarger - e antecessor de Coakley - Thomas Reilly, parecia o escolhido dos poderes do Partido Democrata para ser governador. Mas na eleição para escolher a candidato do partido, chegou em terceiro entre três quando o atual governador, Deval Patrick, foi nomeado.

Quando você for tirar sarro dos processos de bruxas de Salem, considere tendo uma caçadora de bruxas que não se arrepende no Senado dos Estados Unidos. Coakley é pesadamente apoiada pelo partido Democrata de Massachusetts, pela viúva de Ted Kennedy, e pelo Presidente Obama. Então caçando bruxas pode ser um caminho de sucesso. Talvez estes estimados estejam corretos em apoiá-la - eles são, afinal, pessoas políticas. Mas eu não conseguiria votar em Coakley (ainda que com certeza não apoio seu concorrente). Ainda que Coakley sobreviva esta eleição, sua campanha a marcou como "bens danificados" politicamente - algo que seu comportamento sobre "abuso infantil ritual" deveria ter feito, mas não conseguiu.

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