domingo, 25 de outubro de 2009

Telhados de madeira, custos no céu

Em setembro, tocamos na tese de doutorado escrito sobre a Colina do Sol por Luiz Fernando Rojo Mattos, e prometemos voltar para a tema, pois Dr. Luiz Fernando em 2005 observou os conflitos entre os vários grupos dentro da Colina. Isso pode explicar as desavenças que levou seis "colineiros" a fazer as falsas denúncias contra Fritz Louderback, Barbara Anner, André Herdy e Cleci Ieggli da Silva, e depois fazer outras acusações falsas contra Silvio Levy.

Questão dos telhados

A tese é de 239 páginas, e seria leviana tentar tratar tudo numa única postagem. Vamos examinar hoje o que Dr. Luis Fernando chama do "questão dos telhados". Como antropólogo, ele estuda o questão dos telhados como um exemplo de resolução de conflitos, de como funcionava (ou melhor, não funcionava) o conselho deliberativa, e como ilustração do poder de veto de Celso Rossi e Paula Andreazza.

Para nos, os telhados servem não somente para ilustrar de modo geral os conflitos na Colina, mas que está no raiz dos motivos que uns dos acusadores tiveram para se livrar do Fritz.

Um dos exemplos mais significativos para entender os limites apresentados acima, além dos impactos que as decisões de vetar determinadas iniciativas apresentam sobre a disposição subjetiva de continuar participando destes fóruns, foi dado pela “questão dos telhados”.

Durante todo o período que permaneci em campo, ouvi por diversas vezes referências à “questão dos telhados”, seja em reuniões formais, seja em conversas ou mesmo durante algumas das entrevistas que realizei. Em todos estes momentos, este assunto era citado como um dos exemplos mais nítidos dos limites que a estrutura de poder da Colina impõe à atuação das pessoas.

O caso em pauta remete para o já referido grau de deterioração de diversas cabanas, principalmente do telhado que é a parte mais exposta à ação do sol e da chuva, principalmente nas áreas mais arborizadas, que acumulam mais umidade.

Diante da necessidade de reparo e da baixa vida útil destes telhados, iniciou-se um movimento reivindicando a autorização para substituir a madeira por telhas (o projeto original da Colina obriga a que as cabanas sejam construídas exclusivamente com madeira e pedras), o que possibilitaria um aumento na durabilidade das cabanas. (pp. 122-123)

Os telhados de pinus não somente duravam pouco, mas custavam muito. Vamos ver porque.

Baixa durabilidade

Meu perspectivo é diferente do que o do doutor, sendo que já li dúzias de livros sobre construção, e poucas sobre antropologia. E também porque construção de madeira, o estilo das "cabanas" da Colina, é o padrão nos EUA, onde cresci.

Para entender o "questão dos telhados", é preciso saber que não se trata de uma divergência sobre uma opção estética ou filosófica.

É que as telhas de pinus, escolha de Celso e Paula, não prestam mesmo. Esta madeira é impróprio para a função, e seria vetada por qualquer código de construção. Realmente, hoje em dia telha de madeira é somente usado em paredes, e ainda assim, somente se for a madeira certa.

Telhar uma casa com pinus, é semelhante ao tampar o sol com uma peneira. Mas do que semelhante, porque em pouco tempo as telhas realmente ficam cheios de buracos.

Preço de reserva de mercado

O custo alto dos telhados vem dos "concessões", sistema econômica peculiar da Colina do Sol. É a velha sistema cartorial, ou os monopólios estatais da ditadura militar encolhidos ao tamanho de uma vilarejo. Quem comprava um concessão de Celso Rossi, ganhava o direto de explorar aquele ramo: e de explorar os outros colineiros, que precisavam pagar o preço que o concessionário queria.

Assim, as pessoas interessadas em gerenciar algum serviço na Colina devem adquirir um título de sócio que permita ser concessionário e também uma concessão para o estabelecimento desejado e, em troca, ganham o direito de explorar o serviço e os produtos correspondentes sem concorrência. A perspectiva visualizada por Celso e Paula, ao definirem este modelo monopolista, está em profunda sintonia com sua perspectiva clássica de comunidade, na qual deveria ser evitado todo possível motivo de conflito que pudesse ameaçar a coesão interna. Neste sentido, o objetivo destes monopólios seria o de "evitar a concorrência pura e simples na operação dos negócios, vinculado a uma estrutura que possibilitasse que, pelo menos uma parte dos futuros moradores retirasse da própria comunidade seu sustento." Caso contrário, dificilmente ela deixaria de ser apenas um 'condomínio fechado' dos naturistas para tornar-se uma comunidade autêntica. (pp. 106)

Aqui não seria o lugar de comentar as falhas gerais do modelo; quem pagou uma fábula e esperou um eternidade para serviço telefônica durante monopólio estatal já sabe como é. O antropólogo também não examina a pergunta de porque, ainda se estes concessões fossem uma boa ideia, seria necessário que sejam comprados do Celso Rossi por um preço muito maior do que o concessionário poderia retirar do negócio.

Opção estética?

Eu perguntei para Luciano Fedrigo, que inclusive foi para a comunidade Rincão em São Paulo para fazer "transferência de tecnologia" de construção, da motivação real das técnicas de Celso. A opção para pinus e eucalipto - madeiras de reflorestemento - tinha um fundo ecológico? "Não, é que Celso gosta de pagar barato e vender caro", foi me explicado.

Ouvi meses atrás de que, em Rincão, há duas alas de cabanas, uma construída mas tarde, com casas pre-fabricadas que vem com manutenção anual e garantia de 20 anos; e a primeira, seguindo o padrão Colina. A segunda ala, me falaram, tem o apelido de "Morumbi", e a primeira, de "Rocinha". Ou talvez "Rossinha".

Emprestimo para concertar telhados

Numa certa época, Fritz Louderback emprestava dinheiro a juros baixos para outros colineiros para que eles pudessem pagar estes consertos caríssimos de telhado.

João Ubiratan dos Santos, vulgo Tuca

Emprestou para João Ubiratan dos Santos, vulgo Tuca, que atrasou os pagamentos. Quando Tuca ameaçou Fritz, Douglas, e Dr. André Herdy em frente da casa de Fritz, com arma em punho, Fritz doou os cheques para um ONG, que protestou e cobrou. Tuca, depois, fez acusações falsas de pedofilia contra Fritz.

Fritz também emprestou para Arcelino Raul de Oliveira e sua esposa Elisabeth Borges de Oliveira (Bete), para consertar seu telhado. Assim que Fritz foi preso devido às acusações falsas de qual Raul e Bete participaram, pararam de lhe pagar. Fritz está cobrando a dívida na Justiça.

Etacir Manske deteve a concessão de construção, e pudia se beneficiar da "reserva de mercado" e cobrar para consertar um telhado ou construir uma casa, um múltiplo do que se pagava pelo mesmo serviço fora da Colina do Sol. Ainda com este filão, pegou dinheiro emprestado de Fritz. Fez acusações falsas contra o credor, e parou de pagar a mesma semana que Fritz foi preso. Fritz agora está cobrando.

Chovendo problemas

A "questão dos telhados" mostre quanto pouco a sistema de "concessões" serviu para evitar conflitos na comunidade da Colina do Sol. Os conflitos econômicos foram resolvidos não no plano econômico, onde concorrentes poderiam oferecer serviços melhores ou mais baratos, mas no plano política, onde poderia ser exigidos (em reuniões sempre marcadas para dias úteis) que os cabaneiros de final de semana pagassem mais caro para sustentar as necessidade ou a alvariça dos poucos residentes permanentes.

Mostra também as limitações do modelo autocrático de fazer decisões, em que uma decisão claramente equivocada - telhas de pinus, imagina! - fica imexível porque "Colina c'est moi". E porque um certo estilo de pensamento coloca ideologia acima de realidade.

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