sábado, 10 de julho de 2010

Um macaco e dois sacos de castanhas

Tocha por Anna Cervova

O intrépido delegado Juliano Ferreira, agora titular da Delegacia de Roubos do DEIC, apareceu de novo na mídia estes dias, agora com a "Operação Fire", prendendo 40 pessoas que seriam uma quadrilha de assalto ao banco "com poderosas articulações com o tráfico internacional de drogas e armas", conforme o Diário de Canoas.

Inclusive, o delegado contou para Paranhana On-line de que Taquara é "o município com o maior número de prisões", e que

... todo armamento pesado apreendido na operação foi encontrado em Taquara. Isso inclui as pistolas 9 milímetros e calibre 45 apreendidas.

"Também foi apreendida uma furadeira eletrostática avaliada em cerca de R$ 10 mil", informa IG, mas não consigo encontrar nenhuma referência no Internet sobre o que seria isso ou como funcionaria, nem no português ou inglês.

O armamento pesado

O delegado afirma que "todo armamento pesado" estava em Taquara. Procurei no noticiário mais detalhes, e encontrei a lista:

  • três pistolas 9 milímetros,
  • uma pistola .45 e
  • uma pistola .40, além de
  • farta munição

Será que isso é "armamento pesado" para um gangue de 40 pessoas? Um pistola para cada oito ladrões?

O que seria "armamento leve"?

O macaco e as castanhas

Há porém a possibilidade que o delegado confundiu Taquara, RS e Itajaí, SC, onde foi apreendido uma agência dos Correios, algo pelo menos "pesado":

 
O maçarico e a furadeira eletrostática estavam guardados em um saco de 30 quilos. O segundo pacote, pesando 25,96 quilos continha um tubo de oxigênio e dois sacos de castanhas.
 

Foram para a casa dos donos dos sacos de castanhas e:

 
Na residência do casal no Bairro Carvalho, em Itajaí, que tinha câmeras de vigilância, a polícia encontrou cadernos com movimentações bancárias, anotações sobre compras de equipamentos e notas fiscais. No local, havia ainda um compressor e um macaco hidráulico.
 

Delegado Juliano Ferreira encontrou um macaco hidráulica e dois sacos de castanhas
Sugiro ao leitor que anota seus movimentos bancárias, que faz listas de compras, e que guarda notas fiscais, que se cuide: aquela batida na porta pode ser delegado Juliano Ferreira e a Delegacia de Roubo aos Bancos.

Caso o leitor seja funileiro, ou tenha em casa alicate ou lanterna (outros "indícios") melhor já arrumar uma malinha com escova de dentes e troca de roupa.

Fita na porta

Houve um "flagrante" na operação, em Cachoeirnha: a polícia viu alguém colando fita na porta de uma agência bancária, evitando que esta trancasse, para poder voltar de madrugada e assaltar o caixa eletrônico, conforme Zero Hora.

Infelizmente, não foi explicado como que os assaltantes em Cachoerinha avaliariam-se do "armamento pesado" do gangue, sendo que todos seus cinco pistolas estavam em Taquara.

Os repórteres nunca fazem as perguntas óbvias nas colectivas anunciando estes operações. Talvez por isso estas operações continuam acontecendo.

Comboio até Taquara

Curiosa, esta quadrilha, com ferramenta inexistente, e armamento insuficiente. Mas minhas dúvidas sobre a seriedade da operação, e da imprensa que acolheu a história sem questionar, foram enterradas de vez quando li o lide de Zero Hora:

 
Os relógios marcavam 5h10min quando um comboio com dezenas de veículos deixou as dependências do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na madrugada de ontem, com destino a Taquara, no Vale do Paranhana. Era o primeiro grupo de policiais mobilizados numa megaoperação que desarticulou uma quadrilha especializada ...
 

Já ouvimos esta história de delegado Juliano Ferreira e seus comboios para Taquara antes do sol nascer. Em 11 de dezembro de 2007 foi uma farsa montada para a imprensa, quando ele estava prestes a perder o cargo. Não acredito que esta seria outra coisa. Espero que com "Operação Fire", o delegado queimou o filme de vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário