sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A corrida do Capitão

19/09 foi Dia Internacional de Falar como um Pirata
A Rainha Vermelha da Alice precisava correr tanto quanto podia, para se manter no mesmo lugar. Daria inveja para quem monta uma esquema Ponzi, que para ficar onde está, precisa sempre correr mais rápido. Pois a renda da primeira leva é pago com o principal da segunda leva; a terceira leva paga a renda dos dois anteriores; a quarta já dá conta dos três anteriores, e assim vai. Para manter a esquema em pé, é preciso não que a coisa continua no mesmo ritmo, mas que entre cada vez mais. Senão, desanda.

Umas esquemas caim ao chão rapidamente, enquanto outras são duradoras. O esquema Ponzi original durou poucos meses. O de Bernie Madoff, décadas. Como que Celso Rossi consegui fazer de naturismo brasileiro sua reserva e tira dele seu sustento, durante um quarto de um século?  Entendendo porque a nau capitania está indo finalmente à pique, entendemos porque navegou tanto tempo.

Mudança de praça

O primeiro empreendimento de Celso foi o Paraiso da Tartaruga morro acima da Praia do Pinho; depois Pedras Altas, também em Santa Catarina; depois foi mais longe para Colina do Sol em Taquara, RS. Ouvi ainda que sua ligação com uma área naturista em Minas Gerais terminou quando a barragem literalmente estourou.

Este mudança ajudou suas esquemas, não somente para encontrar um rebanho novo para tosar, mas também a mudança de praça comercial e da comarca ajudou deixar sua história para trás.

Mas o mundo mudou. Ficou menor. Mais aberto. Na "aldeia global", tudo é local. O que era longe está aqui, o que teria sido esquecido no passado, está presente.

Justiça digital

A Internet trouxe o longe, para perto
Já vimos que no despejo da AAPP do Morro da Tartaruga, o nome do Celso Rossi foi citado duas vezes na sentença do Tribunal de Justiça de SC, e a acordão está no Internet, ao alcance de qualquer um. Antigamente, ler isso teria exigido uma viagem ao Fórum da comarca, ou ao Tribunal de Justiça do estado. Hoje, há mais transparência. Que é ruim para quem tem algo que não quer que transparece.

No processo da falência da Naturis, podermos ler online, num acordão do TJRS, que:

A promoção de fls. 405/418, ademais, bem equacionou os fatos, devendo ser considerada como aqui transcrita, evitando a tautologia e a mera transcrição.
Ocorre que, no entanto, ausente o fundamento que justificou a decretação da falência, referido como “(...) a prática dos atos de falência descritos nas letras ‘a’ e ‘f’ do inciso III do artigo 94 da Lei nº 11.101/05 (...)” (grifei fl. 162), não podendo subsistir o decreto, cuja finalidade foi única e exclusiva a de fraudar credores, sob pena de ser prestigiada a conduta ilícita, diante da documentada atividade de Celso Rossi junto ao grupo (fls. 375/376) e da ciência da gerência da contabilidade por profissionais de Sapiranga (fls. 381/387). Grifa-se.
Quando Celso Rossi se apoderou do naturismo brasileiro, até uma determinação judicial destes teria sido inócuo. Poucos pessoas vão ao Forum verificar processos, e verficando que já passou em muito os 400 páginas, poucos persistem. Mas com documentos digitais disponíveis pelo Internet, é fácil buscar o nome que interesse.

Naquela época, eram fatos isolados, em lugares separados. Hoje, cada fato poder ser costurado com o anterior e o posterior, e ao ser vistos em cadeia, viram modus operandi. E pode ser não ser somente os fatos, que são vistos em cadeia.

"Celso Rossi não dá ponto sem nó"

Ouvi de várias pessoas esta afirmação. Como expressão idiomática, devemos considerar o sentido literal. Porque é bom dá nó? Porque sem, alguém pode puxar o fio, e a peça desmancha. Agora, como expressão de fato, é falso. Em documentos públicos, Celso precisa colocar assuntos na mesma maneira que todas as outras pessoas. Há muito ponto sem nó em cartório, no registro de imoveis, na tabelião, na Junta Comercial, etc. É só ir lá procurar ... e puxar.

O lente aumentativa da imprensa
    
Celso percebeu cedo que o naturismo ganhava espaço desproporcional na imprensa. A Colina do Sol, com umas 100 casas, e um valor total menor de uma casarão de Alfaville, tem fama nacional. O país está cheio de empreendimentos imobiliários com cinquenta vezes o porte financeira, desconhecidos fora do seu região imediata.

Além do aspeto aumentativa da imprensa, seus lentes são tingido de cor-de-rosa quando trata destas assunto de "estilo de vida".. A percepção de naturismo como excêntrico mais inofensivo foi percebido pela agência que fez a propaganda de Margarina Mila já em 1979. Celso percebeu isso. Mídia farta e favorável ajuda qualquer esforço.

A Queen Anne's Revenge, de Blackbeard
Como a Colina do Sol aproveitou isso? Num caso que acompanhamos ao lado direto do blog, a pedido da famosa Colina do Sol para uma ligação a rede elétrica, resultou no concessionário RGE fincando postes nas terras dos vizinhos, num custo que pela extensão parece elevado. Para o "Encontro Latino-Americano de Naturismo", que atraiu exatos três estrangeiros, a prefeitura arrumou a estrada que leva à Colina, em preferência a outras vias mais transitadas e mais necessitadas.

A falsa denúncia de pedofilia trouxe uma onda enorme de mídia. Os dirigentes da Colina cultivaram a mídia abrindo as portões para que poderiam filmar o "flagrante", e ouvi que uns deles ao pedido da polícia ficaram nus para dar entrevistas. Dizerem que denunciam pedofilia, e qualquer um que denuncia pedofilia é para a mídia um herói.

A Naturis/Celso Rossi, procurado durante anos por oficiais de Justiça, cartas registradas, e editais fixadas no Fórum, finalmente buscou o processo de falência referido acima, quando as denúncias falsas já tinham sido feitos, e entregou sua primeira petição no caso, na segunda-feira seguinte as prisões. Por coincidência, com as denúncias em curso mas duas semanas antes das prisões, Dana Wayne Harbour, maior investidor no empreendimento Hotel Ocara, também de Celso, foi executado na sua cabana dentro da Colina. Claro que a morte de Wayne naquela hora, quando seria ofuscada pelas falsas acusações, só pode ter sido coincidência.

notamos que um dos devedores de Fritz Louderback na Colina do Sol, Etacir Manske, deixou de pagar a dívida na mesma semana que suas acusações colocou seu credor na cadeia.

Celso Rossi recentemente entregou defesas neste processo de falência, e num outro. Nos dois casos, ouvi, a maior parte da defesa era um calhamaço de 400 páginas com recortes amareladas de jornal elogiando Celso Rossi.

Aparecer na imprensa é uma tática de Celso Rossi e da Colina do Sol. Aproveitaram seu momento na mídia com as denúncias de pedofilia, para finalmente enfrentar os processos dos quais fugiram antes? Ou, sabendo que não dava mais para fugir, resolverem fazer as denuncias, para criar uma onda de mídia favorável? O que veio primeira, a galinha ou o ovo? 

O jornalismo digital

Na mesma defesa em que Celso juntou seus recortes antigos, ele apontou o origem dos seus problemas atuais: este blog.

Sim, parece que em pesquisando a vida empresarial de Celso Rossi, e publicando os fatos que encontrei no registro público, dificultei que a esquema prosseguisse. Alertamos do golpe da "Colina dos Ventos".  Trocamos dados com outras vítimas, com a Dra. Carmen que defende a família do finado Gilberto. Encontramos os dois mapas de Celso, um mostrando o que ele comprou, e o outro mostrando a área maior que ele vendia.

Voltando para o começo do ensaio, para manter uma esquema Ponzi funcionando, é preciso não somente sempre ficar correndo rápido, mas ficar correndo sempre mais rápido.  Se ficar, o bicho pega. E o bicho está pegando. 

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