sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Rosa Branca

Alexandre Schmorell, amanha São Alexandre
A leitura de cama do momento, "The Treasure of the Sierra Madre", levou a uma busca de informações do autor, B. Traven. A identidade real dele é um mistério até hoje. Wikipedia sugere que outro livro dele, The White Rose, poderia ter inspirado o nome de um grupo estudantil anti-nazista em Munich durante a segunda guerra mundial.

O White Rose de Munich distribuiu panfletas contra o governo nazista. Vários dos seus líderes morreram na guilhotina. Outros, processados, foram inocentados, até sob a regime nazista.

Um dos executados, Alexander Schmorell, será canonizado pelo Russian Orthodox Church Outside Russia, este sábado e domingo, 4 e 5 de fevereiro de 2012.

Terrores de nossos tempos

É bom lembrar que a Corregedoria da Policia relatou que ouviu dos filhos de Isaías Moreira, de que foram ameaçados de morte por policias do equipe de delegado Juliano Brasil Ferreira - e confirmou que de fatos estes policiais estavam em Morro da Pedra no dia relatado.

As vítimas do caso Colina do Sol sofreram, sim, ameaças de morte. E quem morre pela polícia gaúcha não fica menos morto do que quem morreu pelo Gestapo. O povo de Morro da Pedra enfrentou com coragem o mesmo perigo que os estudantes da Rosa Branca.

E não somente ameaças. Os três pais, Marino, Isaías, e o finado Sirineu, enfrentaram um processo criminal (no caso de Isaías, dois processos) em vez de acusar inocentes. Cristiano Fedrigo foi informado no Palácio da Polícia em Porto Alegre que ele seria "o oitavo acusado". Tinha sua bilhete de avião para Nova Iorque na bolsa, e ficou e lutou. Sua mãe, Nedy Pinheiro Fedrigo, informada pelo seu médico que morreria caso não abandonasse Barbara e o estresse provocado pela corja da Colina, não a abandonou. E morreu, mesmo. Silvio Levy foi processado por ter defendido os acusados em textos no Jornal Olho Nu. Até eu fui processado, por ter levado uma cotovelada de um conselheiro tutelar, durante uma manifestação até então pacífica, em frente ao Fórum.

Amigos de Fritz Louderback, dentro da Colina do Sol, enfrentaram a ameaça da perda do seu patrimônio às mãos do Conselho Disciplinar da Colina, que não vou comparar com os tribunais nazistas, pois as nazistas as vezes inocentavam, como nos casos de uns dos membros da Rosa Branca.

O livro "No Crueler Tyrannies", pelo qual Dorothy Rabinowitz ganhou o Prêmio Pulitzer, leva o subtítulo de "Acusação, Falsa Testemunha, e Outros Terrores de Nossos Tempos". A onda de "redes de pedofilia" já passou nos EUA, devido em parte ao trabalho de Rabinowitz, mas ainda está em alto aqui. O terror de nossos tempos.

As formas de covardia

A covardia toma muitas formas, como "não é comigo", ou "é preciso salvaguardar o nome da firma", ou "é melhor aguardar a Justiça", ou "deixe para as autoridades competentes". Toma tantas formas, porque é tão comum.

Bastante comum é a "coragem" daqueles que se juntam a um linchamento: é mais fácil participar de uma "marcha contra a pedofilia" do que recursar o convite. Mais passivamente, há aqueles que acham "mais seguro" acreditar na acusação do que na defesa. Outra forma de sair de fininho é achar que "é muito complicado". Simples o suficiente para acreditar nas acusações, mas complicada demais para entender-los.

Coragem é mais raro

A coragem é mais raro, e mais difícil. Os do White Rose enfrentaram a possibilidade da morte, mas também Isaías e seus filhos, e Nedy, enfrentaram a mesma ameaça, e não no anonimato. Os três pais tinha a certeza de ser processados, caso não cedessem. Ficaram firmes.

A data é propicio para saudar a coragem de Alexander Schmorell, logo São Alexandre. Ele enfrentou o terror do seu tempo. Mas o povo de Morro da Pedra enfrentou o terror de nossos dias, e seu coragem não é menor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário