quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sinais de prosperidade

Não é mais a única vistosa
Faz três anos e meio que estou visitando Taquara e Morro da Pedra. Nesta visita mais recente, a impressão que mais ficou, era de um aumento de prosperidade.

O hotel está cheio de segunda a sexta-feira; há semanas em que quarenta pessoas batem na porta e são encaminhadas para rivais, pois não há espaço na hospedaria. É o lugar preferido de quem vem a serviço, em Taquara ou até em cidades vizinhos: Sapiranga, Três Coroas, Parobé. São gente fazendo algo de útil: podando árvores na estrada para RS-020, assentando granito numa fachada. Lamento não ter cruzado com os técnicos montando um "cervejaduto" para a fábrica de Schincariol em Igrejinha. Queria ouvir mais.

Taquara, Morro da Pedra, e Colina do Sol

Recebi uma crítica do postagem anterior, sobre o crime da Cafeteria Taquara, perguntando "O que isso tem a ver com a Colina do Sol"?.

Tem tudo a ver. A Colina do Sol é parte do Morro da Pedra, de Taquara, e do Brasil. Compartilha os problemas de Taquara, e poderia compartilhar seus avanços. E vale notar, está sujeita aos regulamentos da cidade, e às leis do Brasil.

O crime da Cafeteria mostrou como a cidade é pequena: a vítima era parente de pessoas com quem lido, e a morte tinha ligação estreita com o Barracão, lugar central à sociedade de Morro da Pedra, e palco de muito do caso Colina do Sol.

Nos já examinamos aqui antes o senso de comunidade. No caso Colina do Sol, a prisão preventiva dos quatro acusados pelos condôminos da Colina do Sol foi baseado no "ordem pública" e a o "clamor da comunidade".

A Colina do Sol é somente um condomínio. Comunidade é Morro da Pedra, é Taquara. Escrevemos aqui sobre a comunidade, a comunidade real cujo legitimidade, e clamor, prevalecerá sobre os autores das falsas denúncias, a corja da Colina do Sol.

Prosperidade em Morro da Pedra

Foi mas de seis meses que eu não tinha visitado Morro da Pedra. Senti, em tudo parte, um ar de prosperidade, que não tinha notado antes.

Quando Dr. André e Cleci resolverem se retirar do recinto hostil da Colina do Sol, ele me falou que "só tinha uma opção" em Morro da Pedra, a casa de campo de uma juíza aposentada. E realmente, de longe, a casa era vistosa, destoante das casas mais simples do povo do lugar. Mas nesta última visita, procurei Cleci, que não estava, e uma das suas vizinhas apontou onde talvez ela estava. E notei que puxa, daí dava para ver várias casas bonitas e de bom gosto. Vendo elas por perto, noteis mais. Marino tinha adicionado uma alpendre à sua casa, e o pai de Cleiton atinha aumentado sua casa pela segunda vez. Muitas outras casas foram recém-pintadas.

A estrada está agora asfaltada de Santa Cristina para o leste. Meu ônibus não seguiu a estrada até RS020, então não sei se o asfalto chega, mas percorremos grande parte da comunidade. Contei cinco "casinhas de brincar" nos jardins de casas, quatro cor-de-rosa e uma amarela. Não algo de grande custo, mas algo que não seja de maneira alguma uma necessidade. Muito gente tem dinheiro para gastar em o que quer, e não em o que precisa.

Vi na viagem três reto-escavadoras, novas com tinta brilhando. O trabalho que não muitos anos seria feito por homens, pois mão-de-obra é barato, agora é feito por máquinas - pois mão-de-obra já não é tão barato assim. Ouvi de um dono de pedreira que um temor da fiscalização municipal (sobre qual já falamos este ano com Dra. Ximena) é que uns dos trabalhadores ganham mais de R$800 por semana "e não dá para registrar isso em carteira".

Tanto nos brinquedos das meninas pequenas quando os dos meninos crescidos, Morro da Pedra ostenta uma prosperidade que antes não tinha.

Sem miséria

Uma das alegações da polícia e da promotora era de que os jovens de Morro da Pedra faria qualquer coisa por uns trocados, devida a "miserabilidade em que vivia a vítima".

Na minha primeira visita a Taquara, enquanto comi churrasco com a família de Isaías, na sua chácara em Morro da Pedra, perguntei a eles si vivessem na miserabilidade. Riram da minha cara.

Fui sábado e domingo a Morro da Pedra. J. estava construindo um abrigo temporário no sábado, fazendo trabalho tamanho homem. O mais miúdo das "vitimas", ele agora tem 16 anos. No domingo, passei na casa de Sirineu, e encontrei sua esposa Dinamar e meia dúzia de filhos e netos, amontoadas no chão como um ninho de cachorrinhos. J. dormindo na sofá, pareceu bem mais jovem do que no dia anterior. A estrutura da casa está realmente em péssimas condições, mas as roupas dos meninos, como as tapetes que cobrem o piso da sala, estavam limpas.

Saúde

A família de Sirineu passou por um transtornou enquanto eu estava em Morro da Pedra. Um dos netos, de uns 8 anos, passou por cirurgia por apendicite. O único hospital de Taquara foi recentemente reativado, em cooperação com o hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, e o menino se operou em Taquara em vez de num município vizinho. É o mesmo hospital onde Cleiton está fazendo estágio como técnico em radiologia.

O menino passa bem. O hospital deu aparência de limpo e organizado. Bastante gente para ser tratado, mas estavam sendo tratados mesmos. A mãe poderia ficar com o menino a noite, e os parentes revezavam durante o dia. Seu tio Régis, que recentemente fez 18 anos, ficou com ele durante grande parte do fim de semana.

Outro neto sofre de problema mais sério: o "sindrome de x frágil". Há medicamento por isso, que é caro, mas a família está conseguindo pagar, com ajuda de programas governamentais. Vi ele tomar o remedio em casa, Dinamar falando para ele que na fim de garrafa, é preciso jogar fora o aplicador e usar um novo. O menino está reagindo ao remédio, Dinamar disse, e que se continuar em tratamento aos 18 anos vai ter como ter uma vida independente.

Vai para uma escola especializada em Taquara duas vezes por semana, um dia pago pela família, outro pela Prefeitura. Há um processo na Vara de Infância de Taquara, para que a prefeitura pagasse a semana integral. Mas a vara tem muitos processos.

Enquanto isso, ele vai três dias por semana à escola Dona Leopoldina. Não aprende nada, mas socializa com as outras crianças. Quando tem um surto de raiva (acontece quando é contrariado) uma das professores o leva para o pátio, para andar para cima e para baixo, até que ele se acalma.

O poder público está chegando no Morro da Pedra, as vezes até para ajudar. O abandono, o lacuna que Fritz Louderback e New Faces começaram preencher, já não é mais total.

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