segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Um copo d'água

O otimista veja a copa d'água como meia cheia, e o pessimista como meia vazia. Mas neste ramo de falsas acusações e crimes de imprensa, bem menos de meia copa já refresca. Para que estes crimes não acontecem, é preciso somente que os acusados sejam ouvidos com um décimo do crédito dado para a acusação, e que a acusação seja recebido com um décimo do ceticismo com que são ouvidas as "alegações" da defesa.

Notamos aqui neste blog o caso de William, finalmente inocentado e livre na caça às bruxas de Catanduva, depois de quase três anos preso. O desembargador observou que o "clamor público" não é prova. Carlos Brickmann, jornalista conceituado, abriu sua última coluna do ano com a "Condenação perpétua e definitiva" da imprensa no caso de William, e a coluna foi republicada pelo site Consultor Jurídico.

Fui eu o primeiro de publicar um diagnóstico da caça às bruxas em Catanduva, antes mesmo da CPI chegar lá. E fui eu que chamei a atenção de Brickmann para a absolvição de William.

É água. Mais do uma gota, e mais que meio copo.

E tenho de fontes seguros que esta mês, vêm o dilúvio.

A acusação que dispensa de provas

A acusação de abuso sexual, especialmente de crianças, tem um ar de mágica: uma acusação tão pesada que provas são dispensáveis.

Outro caso do tipo que está desmoronando é no Rio de Janeiro, onde o dono de um creche, Paulo Maurício, foi acusado de abuso por mães de alunos. Ou, para ser mais exato, mães inadimplentes de alunos.

Lá, já desativaram o núcleo de psicologia do DCAV, onde psicólogos-policias eram encarregadas por seu chefe de examinar as "vitimas" daqueles que o chefe tinha acabado de prender na televisão. Já não sãem mais os laudos "pret-à-prender", com um teor que serve para prender qualquer um. As vezes as entrevistas foram feitas com advogado "assistente de acusação" dentro no consultório! O Conselho Regional de Psicologia já abriu sindicância contra um destes policiais-psicólogos. E o caso do Paulo Maurício está aguardando o TJ-RJ.

A esposa de Paulo Maurício me contou que, num audiência do processo dele, a coisa esticou, mais de oito horas no Tribunal. Normal nestes casos é que há um intervalo, e parentes ou o advogado do acusado, ainda que acusado de assassinato ou de crime organizada, saem para comprar um lanche. Mas a juíza não permitiu que alguém comprasse algo para Paulo Maurício comer - ele era acusado de pedofilia!

Quem é alvo desta acusação, parece, nem merece comida - muito menos coisas mais importantes, como o direto de ser considerado inocente até comprovado a culpa. Não precisa comida para se alimentar, e a juíza não precisa de provas para condenar-lo. Afinal, é acusado de pedofilia!

Um copo d'água em Taquara

Conversei entre Natal e Ano Novo com Cleci, e perguntei como foi a audiência no começo de dezembro, a última audiência do caso.

Ela me disse que ela se emocionou na audiência, e o promotor pediu água para ela. A audiência foi interrompido, e juíza e promotora aguardaram ela se compor, para continuar.

Um copa d'água não é, em si, grande coisa.

Mas é um sinal de que parou o pânico moral, a crença cega, o febre de linchamento.

Examinamos aqui as provas no caso Colina do Sol, e variam entre "mínimas" e "ridículas". Os acusados não precisam de que a água esteja na metade do copo. Não precisam de que a Justiça seja equilibrada. Precisam de somente um mínimo de bom senso. Precisam de uma gota d'agua, do peso de uma pena, ou a fé de um semente de mostarda.

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