A mentira peso pouco para a imprensa brasileira, pelo menos quando quem mente é quem acusa. Em 2009 eu estava em São José do Rio Preto durante o "reconhecimento" dos acusados na caça às bruxas de Catanduva. (Como eu já disse aqui, quem mais foi reconhecido era o borracheiro "Zé da Pipa" - que nem estava lá.)
Eu conversei com um repórter que era em grande parte responsável para o linchamento. Eu falei de uma menina que disse que foi estuprada, cortada nos braços e nas costas com um "grande facão", e que tivesse a clitóris cortada com uma tesoura. Ela disse que foi para casa e, envergonhada, não pediu ajuda mas simplesmente lavou suas feridas com sabão e água.
Eu vi os laudos médicos, e os cortes da "grande facão" não deixaram cicatrizes, e ela é virgem, como todas as meninas que disserem que foram estupradas. Ou é uma "cirigiã espiritual" e revirginou, ou mentiu.
"Mas o clitóris?" ele perguntou. Bem, eu disse, o laudo médico disse que a clitóris era realmente pequena, mas pode ser que nasceu assim.
"Aha!", disse o repórter, "Pode ser que nasceu assim, então pode ser que não nasceu assim. Então, está tudo comprovado!"
Bem. O que poderia responder disso? Ela falou três coisas. Duas são mentiras, comprovadas. Para o terceiro fato há uma explicação comum - nasceu assim - e uma extraordinária: foi mutilada com tesoura, não contou para ninguém e não recebeu atenção médica, e cicatrizou sem infecção.
Semana passada, outro repórter do mesmo veículo, do capital e com 17 anos de experiência no ramo, me procurou exatamente para saber da reviravolta do caso Catanduva, com a absolvição de William. Contei para ele da acusadora condenada pelo seqüestro de William, e ainda para tráfico de drogas, e os grampos do PM nos telefones do PCC que desvendaram o seqüestro. Falei dos laudos médicos que comprovaram que todas as "vítimas de estupro" continuavam virgens. Falei das absurdas da lastimável sentença que condenou William.
Mas este repórter, também achou que o laudo médico desmentiu a menina em duas coisas - mas pode ser que foi mutilada!
Ele queria porque queria uma "vítima" que se retratou, que disse que mentiu. Comprovado que mentiu, não bastava.
Syracuse
Levanto o assunto hoje, pois saiu uma matéria de um caso semelhante nos EUA. Um jovem tinha acusado um técnico de basquete universitário de abuso quando ele era menor.
O leitor que domina inglês vai ver no link acima, que o jovem foi pego na mentira, que "alterou emails e mentiu com freqüencia para repórteres." Ele disse especificamente que foi molestado num certo jogo de basquete, muitos anos atrás quanto era estudante secundário. Mas os registro da escola comprovam que ele estava assistindo aulas a 1500 quilometros do jogo e o técnico, naquela data.
O jornal aponta que o técnico foi demitido, no mesmo dia que o jornal publicou as acusações. Entrevistou uma professora de direito e ex-advogada criminalista, Laurie Shanks, que disse que a reputação do técnico foi danificado, ainda que a acusação for comprovada falsa:
"Uma vez que uma alegação é feito, a vida da pessoa é destruída, e enquanto é enquanto é muito difícil comprovar abuso sexual de crianças porque muitos vezes há pouca evidência, é impossível comprovar falso uma alegação," ela disse. "O que perturba ainda mais e é um pouco difícil lidar é que se você for acusado disso e seja completamente inocente, sua vida é destruído. Quero dizer, [o acusado] foi demitido, não foi?"
O caso do acusador não vai para frente. Não se encontraria promotor que acharia que tenha credibilidade. Dois email forjados, um monte de outras mentiras comprovadas: ninguém acredita.
Mas no Brasil, duas afirmações desmentidas, há quem aposta ainda na terceira. Estranho. Para a defesa, a regra é exatamente a oposta: dois divergem num detalhe sem importância, e pronto, "acusados entram em contradição."
E Colina do Sol
E estraga feito nas vidas dos acusados do caso Colina do Sol são, sim, sem repara. Não somente aos acusados, mais às outras vítimas da perseguição da corja da Colina, como Nedy.
Impossível comprovar falso? Se a balança usado para pesar as afirmações da acusação e da defesa não são as mesma, se o processo for conduzido sob as regras da Santa Inquisição ou do regime stalinista, ou sob a regras da tribuna da imprensa brasileira, é impossível, sim.
Mas se o processo proceder sob as regras de evidência comuns, a falsidade das acusações já foi mais do que comprovada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário