domingo, 6 de dezembro de 2009

Persona non grata

Sexta-feira, fui para Sorocaba assistir uma audiência pública da CPI de Magno Malta. Tinha sido anunciado que viriam sete senadores; depois dois, o presidente mais o senador paulista Romeu Tuma; e finalmente no dia, somente senador Magno Malta.

Ato encolhido no Fórum

O local da audiência, o dia, e também a duração mudaram. Tinha sido anunciado para a Câmera Municipal dias 9 e 10. Mudou para o Fórum, e nem para uma sala ampla, mas para uma sala de audiência comum, do Colégio Recursal, onde durou não dois dias, mas uma hora e vinte minutos. Um jornal falou que a Câmara tinha outros eventos agendados, e um vereador que encontrei fora da sala me falou a mesma coisa, mas com um piscar de olho.

O senador aproximou pelo corredor ampla e iluminada do Fórum - o prédio foi inaugurado quando Geraldo Alkimin era governador - andando lentamente, enquanto falava com jornalistas e várias câmeras de televisão. Deu uma parada exatamente onde, se eu ficava, ficaria de "papagaio de pirata", mas achei melhor sair do enquadramento. Afinal, não sou notícia. O senador estava acompanhado pelo secretário da comissão, Augusto Panissete, e outras assessores, inclusive uma promotora jovem e loira. A Dra. Catarina Gazele, ex-procurador-geral de Espirito Santo, com quem Cristiano Fedrigo e eu conversamos em Brasília, e que acompanhou o CPI para Porto Alegre, não estava.

O acusado, Januário Renna, foi trazido pela escada de incêndio, saindo da porta de metal com a blusa por cima da cabeça. Foi levado logo para a sala de arquivo da vara, e somente depois os 20 jornalistas que estavam aguardando desde a hora anunciado foram permitidos a entrar. Juntaram-se mais uma ou duas dúzias de curiosos.

Secretário preso no motel

Januário Renna era Secretário de Administração de Sorocaba quando foi preso em agosto numa motel da cidade vizinho de Itú, com três adolescentes, duas de 14 anos e outra de 15. A polícia tinha seguido o carro dele desde Salto, onde pegou as três. Depois vasta publicidade, outras supostas vitimas aparecerem, incluindo uma menina de 12 anos.

Eu tinha almoçado no restaurante do Fórum, lendo os três jornais da cidade. Uma matéria chamou minha atenção: Garoto fazia ‘michê’ e tinha agenciador primeiro pelo vocabulário - eu entendo que a palavra é "cafetão" - e depois pelo conteúdo. Tanto o adolescente quanto seu homem de negócios, este de maior, foram levados a delegacia - e liberados.

Inocência corrompida?

Entendo que o lei mudou uma semana antes que sr. Renna foi preso. Não conheço as mudanças, e não sou advogado. Mas com certeza, promover prostituição, rufianismo, não ficou menos sério do que antes. E o tratamento de Renna foi desproporcional.

Sempre na lei brasileira, a promover prostituição foi delito mais sério do que ser ou freguês ou prostituta. Antes da mudança recente da lei, muitos na situação de Renna foram inocentados de acusação de corromper menores, comprovando que já tinham sido corrompidas muito antes.

Sobre estas menores, o Jornal Cruzeiro do Sul informou já três meses de que

Obscenidade

Segundo informações extra-oficiais, uma das meninas teria tentado fugir do CIM Mulher. Coincidência ou não, uma viatura da Guarda Municipal (GM) passou a ficar 24 horas em frente à entidade, localizada no Jardim Embaixador. Neste mesmo período houve um outro incidente, agora oficial. Outra menina - assim como num jogo - teria praticado “atos que beiraram a obscenidade” defronte a um dos GMs, fato este relatado, em documento, pela funcionária Fernanda Monti, e encaminhado às conselheiras tutelares de Salto.

De praxe

A audiência, anunciado para 14:30, começou às 16:00. Enquanto o advogado de Renna, Dr. Márcio del Cístia Filho, consultou com seu cliente no arquivo, Senador Magno Malta começou a audiência com as frases "de praxe". Declarou aberto a sessão, e enfatizou que estava tratando de um "caso emblemático, ate pedagógico" por envolver autoridade público.

O senador passou a falar da natureza da CPI. "Não é uma uma usina de denúncias", ele diz, "investigamos". As viagens da comissão tem o intuito de evitar deslocamentos a Brasília.

Explicou que, durante a audiência pública, a sala de sessão era um extensão do Senado. Ele convidou o delegado e o promotor de Gaeco a participar. Esclareceu que a CPI não é um tribunal de exceção - algo com que já discordamos aqui.

Expulsão

A aí termina minha notas da sessão da CPI em Sorocaba, leitores, porque o senador Magno Malta pediu que o senhor de camisa verde, que estava bem ao meu frente, ficasse um pouco de lado. E ai, a minha grande surpresa, o senador me expulsou da audiência pública.

A matéria abaixo do Jornal Cruzeiro do Sul é geralmente correto. O termo "jornalista de araque" ele já usou antes, e eu perdi uns minutos procurando "Araque" no atlas antes de consultar o Aurélio. Porém, cortaram o segundo frase. Preferi a frase completa da sua excelência, "anjo guardião de pedófilos".

Discordo também da afirmação do jornal de que o senador "gritou"; não achei que saiu tanto do seu tom normal de discurso.

Holofotes e Gaeco

Conversei com os outros jornalistas enquanto aguardamos o começo da sessão. Saiu no Jornal Cruzeiro do Sol que disse que senador Magno Malta procura holofotes. Pode ser que disse isso, ainda que seria chover no molhado.

Mas o que enfatizei foi a atuação de Gaeco. Em três recentes casos de crimes sexuais, a caça às bruxas de Catanduva, o Dr. Roger Abdelmassih, e este de Januário Renno, apareceu o sempre mediática Gaeco.

Em Catanduva, há a atuação de uma pessoa agindo isoladamente, se for isso - eu comecei desconfiar da confissão de Zé da Pipa quando li cartas de 300 anos atrás sobre os processos de Salem, aconselhando cuidado até com confissões nestes casos.

O caso contra Dr. Roger também é peculiar. Pelo alegado, suas vítimas eram somente entre aquelas que pagaram suas honorário, bem altas, e não conseguiram engravidar, nunca entre aquelas que conseguiram ter filhos. Também, o livro "No Crueler Tyranny" da Dorothy Rabinowitz, sobre a histeria de abuso em escolas infantis nos EUA, tem um capítulo sobre um médico que sofreu acusações semelhantes aos de Dr. Roger, ainda que de somente uma paciente. E ainda se fomos acreditar as acusações, nada leva a crer que houve alguém envolvido além de Dr. Roger.

Januário Renna foi preso por policias que seguiram seu carro, depois do que ele mesmo pegou as adolescentes em Salto, e levou para o motel para, usando uma frase infeliz, consumo próprio. De novo, nada leva a crer que houve mais alguém envolvido. Muito ao contrário.

Porque, então, a intervenção de um grupo dedicado ao repressão de crime organizado? De crime organizado não há nem cheiro.

Em Catanduva, Gaeco apreendeu evidências com 40 policias e 20 delegados, e mídia pre-avisada. Em junho, em um "reconhecimento", o promotor de Gaeco João Santa Terra admitiu - respondendo uma pergunta de um jornalista de araque - que só tinha um único perito analisando as evidências.

Há investigação, e há gente se exibindo na luzes de ribalta. Se for somente os promotores posando de herói, pouco me importaria. O que incomoda, é a conscrição de pessoas para preencher os papeis de vilão.

Peso indevido

Na matéria de Agência Estado, de três parágrafos, um focalizou na minha expulsão da sala.

E o Jornal Cruzeiro do Sul dedicou uma matéria ao assunto.

Tocaia

O que não saiu nos jornais, foi que enquanto aguardei fora da sala, não entrei antes da saída do senador, para evitar provocar-lo. Falei um pouco com o advogado do Januário, e desci com ele.

Na porta do Fórum, tinha um tocaia armado, com o delegado, o promotor de Gaeco, e muita mídia. Fui interpelado pelo delegado, que perguntou se eu tivesse dito que fui convocado pelo CPI aquele dia, e mostrado um papel.

Dei de prontidão o papel, cujo autenticidade foi confirmado pelo Panissete, que diz que era um requerimento, e não uma convocação. Eu diz que nunca falou para a imprensa de que a convocação era para hoje.

O delegado informou que pelo artigo 355 do Código Criminal, apresentar papel falso é crime. Dr. Márcio fez uma defesa de mim, breve mais cheio de brio, que reforçou minha confiança de que Januário Renna é bem defendido.

Passei brevemente pela minha cabeça de que eu estava prestes de ser, pela terceira vez, preso na televisão. Pensei que estava desenvolvendo maus hábitos, e que tinha esquecido de levar minha escova de dentes.

Convocação

Fora da questão da diferença entre um requerimento e um convocação, o que é este papel? Eu estava lendo no site do Senado depoimentos perante o CPI, e encontrei meu nome, e fui ler os convocações.

Requeiro, nos termos do disposto no § 3º do Art. 58 da Constituição Federal e do Art. 148 do Regimento Interno do Senado Federal, seja convocado para prestar esclarecimentos a esta CPI, o sr. RICHARD PEDICINI.

Reveste-se de significativa importância a investigação do caso pela relevância e por convergir com o objeto de investigação desta Comissão Parlamentar de Inquérito.

Sala de Sessões,
(assinado)
Senador MAGNO MALTA

Li que o senador Magno Malta achava que seria "de significativa importância a investigação" eu "prestar esclarecimentos". A CPI vindo para perto de São Paulo, permitindo que eu evitar deslocamentos a Brasília - exatamente como o senador apontou sexta-feira - é claro que vou. Como que poderia não vir, se meus esclarecimentos sejam "de significativa importância"?

Fotografias

O que aconteceu de substância na reunião, foi que o senador mostrou umas fotografias de pedofilia supostamente achados no computador de Januário Renna no Paço Municipal. Conforme os jornais, supostamente 2100 fotos, incluindo uma de uma menina de quatro anos amarrada.

Esclarecimentos

Curiosamente, eu tinha esclarecimentos de prestar, de significativa importância, relacionado a fotografias e documentos falsos.

Fui convocado para depor no CPI em Porto Alegre, em junho do ano passado, no caso Colina do Sol. Lá, dos quase 20 volumes do inquérito na época, foi me mostrado uma dúzia de folhas, recheados de fotos pornográficos, semelhantes ao que aconteceu com sr. Renna.

Mas o que foi me mostrado em Porto Alegre foi documento falso. Estas fotos foram anexados ao processo Colina do Sol, com um "certidão" de um investigador, afirmando que foram achados em CDs apreendidos no caso.

Mas o laudo da Instituto Criminalistica de Rio Grande do Sol, comprove que não há nada nos CDs relevantes ao processo.

As fotografias do case Colina do Sol, então, foram "frias". O que garante que as mostradas para sr. Renna são autênticas?

Crianças e adolescentes

Na época de nossos bisavós, uma moça de 18 anos ainda não casada era solteirona. Quatorze anos de idade era uma idade comum para noivada ou casamento. Foi a idade da Julieta quando fugiu com Romeu. É ainda uma idade apropriado entre os índios, e durante quase a totalidade da história humana, uma moça em idade de engravidar, era uma mulher em idade de casar.

Sr. Januário Renna foi pego num motel com três adolescentes, duas de 14 anos e uma de 15. A lei brasileira trata de forma diferente quem tem mais de 14 anos e quem tem menos, e quem é inocente sendo corrompido, e quem é profissional de sexo já experiente. A soltura do garotinho de programa na noite anterior ao audiência sugere que em Sorocaba prostitutas de 14 anos não são raridade, nem visto como necessitando medidas extremas.

Sr. Januário será julgado não pelos padrões de nossos avôs, ou pelo lei que acabou de mudar dias antes da sua prisão. Pelo menos pelo que ele fez, se fez, depois da mudança de lei: qualquer conduto anterior será julgado baseado no lei vigente na época.

Fotos raras

Um paixão para mulheres jovens e férteis é normal da ponta de vista de biologia e história humana. Porém, as alegadas fotos de meninas de quatro anos sendo amarradas foge da padrões.

Foge da normalidade da humanidade, e foge do que conhecemos da comportamento de sr. Renna.

Muito pouca gente, na realidade, fica exitada com crianças impúberes.

Mas quem gosta muito de foto pornográfica de criancinha, é policial e promotor querendo apimentar uma acusação sexual.

Fotos assim, a CPI nós assegura, são amplamente disponíveis pelo Internet - as fotos frias do caso Colina do Sol tinham até inscrições em russo. E a lei contra pornografia proposto pela CPI franquia a guarda desta matéria para quem investiga.

A matéria é disponível, então, aos acusadores de sr. Renna. Não afirmo que evidência foi plantada no processo contra Renna. Mas fui para Sorocaba munido com provas que assim foi feito no caso Colina do Sol.

E teria apresentado as provas, se tivesse sido chamado para falar, na maneira que a Comissão votou, em vez de ter sido proibido de ouvir uma audiência pública.

http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=39&id=244809 CPI da Pedofilia - [ 05/12 ]

Aparição de suposto 'jornalista' intriga Malta

Gustavo Ferrari
Notícia publicada na edição de 05/12/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 7 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

Bruno Cecim

Richard acompanha depoimentos
de pedófilos

A aparição do suposto jornalista americano, Richard Pedicini, durante a sabatina da CPI da Pedofilia a Januário Renna, na tarde de ontem, intrigou o senador Magno Malta (PR-ES), que chegou a expulsá-lo da sala do Colégio Recursal no Fórum de Sorocaba. O senhor é um jornalista de araque e guardião dos pedófilos. Suma daqui, gritou o presidente da comissão. Imediatamente, o intruso deixou o local.

Fora da sala, Pedicini conversou com a imprensa. Disse que havia sido convocado por Malta a comparecer a uma sessão da CPI, que não precisava ser necessariamente a de ontem. Ele não vai com minha cara e incomodá-lo seria um prazer, disse.

Malta pediu que a Polícia Federal (PF) investigue o americano, que teria comparecido, também, em oitivas do pedófilo Zé da Pipa, em Catanduva, e em Colina do Sol, no Rio Grande do Sul. Pedicini deixou o fórum dentro do carro de uma das filhas do criminalista Mário Del Cístia Filho.

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